Cosendo Pedras, 2022
Aquarela sobre papel e fio de cobre. Diversos formatos e tamanhos
A coragem identificada na ideia do caminho da artista de recortar as próprias aquarelas e deixá-las ir, fica gravada pelo esquartejamento com estilete em punho sobre obras inteiras, numa operação irrepetível, multiplicando-as e fazendo surgir uma variação irresistível de dezenas de partes.
Nascem pedaços que podem simbolizar vísceras e pedras perfuradas para assim passar-lhes pontos com fio de cobre e, ao mesmo tempo, oxigenar e trazer luz aos exageros de cores e aos espaços demasiadamente preenchidos do papel não mais branco.
O ataque corajoso gerou mudança na dimensão dos dezesseis trabalhos dando mobilidade e leveza às peças assim como as tirou de seus formatos retangulares usuais.
Existe forte presença de sua ancestralidade feminina e ausências estruturais mescladas com saudades dentro do ateliê-mundo da artista, mas o que fica exposto ao público e costurado com a obra é o sublimar desses sentimentos enlaçados nas tramas, ora como ser sozinho, ora como coletivo.
O coser fica sob os domínios do Cobre que conduz magneticamente nosso olhar, levando-nos do início ao fim do conjunto que se apresenta como uma coleção harmônica de algo indizível, porém, sentida. Há também pedaços disfarçados do metal pela obra figurando possíveis poças de energia ou, até mesmo, corações.
Se antes a pergunta insistente era “O que corto com aço?” hoje, “O que (me) costuro com cobre?”.